‘Roleta sexual’ – boato gera temores e exageros

domingo, 2 de junho de 2013

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Embora seja foco de atenção da imprensa  da Colômbia há mais de uma semana, a suposta prática da “roleta sexual”,  na qual jovens participariam de jogos eróticos envolvendo relações  grupais, ainda é algo sobre o que pouco se sabe com certeza.
 De acordo com o tom da cobertura sobre o  assunto no país, a “roleta” teria se tornado moda entre jovens de  várias cidades do país, a ponto de ter alarmado as autoridades.
 A maneira como o tema vem sendo tratado,  no entanto, provavelmente diz mais a respeito aos temores da sociedade e  à dinâmica dos meios de comunicação do que sobre os jovens colombianos.
 Os relatos indicam que as regras do jogo incluem seguidas penetrações e colocam à prova a resistência dos homens.

 A história teve início, sem dúvida, com  um depoimento que parece ter sido tomado como verdade, sem  questionamentos: o de uma menina de 14 anos que afirma ter engravidado  após jogar a “roleta sexual”.
 “Não pensei que poderia engravidar,  porque não era muito tempo, era só um jogo”, teria dito a menor ao ADN,  um jornal gratuito que circula em Medellín.
 No mesmo artigo, o jornal também  divulgou declarações de uma funcionária da Secretaria de Saúde  reconhecendo que, nos relatos de jovens grávidas, cada vez mais se fala  de “relações sexuais grupais, que em sua maioria são indiscriminadas e  sem a devida proteção”.
 A partir daí o assunto saiu de controle,  porque os meios de comunicação colombianos não parecem interessados em  determinar se o que está em questão são casos isolados ou uma prática  generalizada, nem se este comportamento de risco sempre é de fato uma  “roleta sexual”.
 DeclaraçõesNa busca por depoimentos que confirmem a  popularidade do jogo, a imprensa também começou a oferecer como prova o  que não passa de boato.
 Uma emissora local, por exemplo, não  hesitou em apresentar como testemunha da prática a tia de uma jovem “que  confessou ter participado na chamada roleta sexual”, mesmo que na  entrevista, repleta de inconsistências, a tia admita que a sobrinha não  tenha confessado e reconheça que “as meninas não falam” – o que, no  entanto, não a impede de oferecer inúmeros detalhes sobre o jogo em  questão.
 E para dar ainda mais solidez às  afirmações, a maioria dos meios de comunicação também reproduziram  declarações da diretora encarregada do Instituto Colombiano do Bem-Estar  Familiar (ICBF), que dão a entender que a instituição confirmou  gestações produzidas pela prática da “roleta”, “inclusive em Bogotá e  Cali”.
 A diretora encarregada do ICBF se chama  Adriana González. E toda a imprensa, inclusive de fora da Colômbia, a  identificou como Adriana Monsalve, o que sugere que as declarações  vieram de uma mesma fonte.
 González explicou que o que o ICBF pôde  comprovar é que havia jovens que diziam terem escutado falar sobre o  jogo, e isso em um bairro de Bogotá. Em outras palavras, o que se pôde  confirmar era a existência do boato.
 Lenda urbana?
 Para Carlos Mario Ramírez,  vice-secretário de Saúde, Inclusão Social e Família de Medelín, cidade  onde se originou a história, quase tudo o que se tem dito e escrito  sobre o assunto até agora está baseado em rumores sem confirmação.
 Segundo ele, o ADN “divulgou o caso e  disse que a Secretaria de Saúde o havia confirmado. Mas nós verificamos e  nunca houve uma declaração (da secretaria)”.
 Ramírez diz que a ideia de que a “roleta  sexual” estaria gerando um aumento no número de gestações de  adolescentes na cidade também é contrariada pelas últimas estatísticas à  disposição.
 Obviamente, tudo isso não significa que o jogo não seja praticado por alguns jovens colombianos.
 Mas, como disse o especialista mexicano  Francisco Cortázar, muitas “lendas urbanas” também têm algo de verdade. E  esta não é a única característica deste tipo de relatos que parece se  aplicar às histórias sobre a “roleta sexual”.
 “Em geral, as lendas urbanas costumam  ser relatadas como se tivessem ocorrido com alguém próximo”, disse  Cortázar, professor de Estudos Sócio-Urbanos da Universidade de  Guadalajara.
 “E fundamentalmente são histórias  moralistas. Funcionam como histórias exemplares de que é o que pode  acontecer se a pessoa não se comportar de forma adequada; transmitem  medos, temores, fantasias, anseios, tabus.”
 “Mas ainda que a sexualidade seja um  tema de preocupação legítima, também ocorrem muitos exageros, muitas  fantasias. E muitos dos comportamentos que acreditamos que os jovens têm  não são tão disseminados. Pode ser que existam em alguns casos, que são  irrelevantes. Mas ter conhecimento de apenas um é suficiente para  desatar um temor generalizado na sociedade”, explica Cortázar. Fonte: De Olho em Aquiraz
 BBC

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